alumbramentos

5.04.2007

esta casa está vazia

LIQUIDAÇÃO

A casa foi vendida com todas as lembranças
todos os móveis todos os pesadelos
todos os pecados cometidos ou em via de cometer
a casa foi vendida com seu bater de portas
com seu vento encanado sua vista do mundo
seus imponderáveis
por vinte, vinte contos.


(C.D.A.)

4.12.2007

pequena descoberta

Lendo seus textos percorri caminhos que não pretendo descrever, muito próprios, muito longos, muito chatos para outros talvez.
Escrever aqui às vezes parece sem sentido, mas às vezes é o melhor diálogo que posso, com outros e comigo mesma.
Acho que hoje acredito demais nas minhas certezas, descrenças e desilusões para ser salva pela fé. Por hora me consola a busca.
Sou eu quem escreve para deus, mas veja só, acho que é você quem realmente acredita na alma.

3.29.2007

o avesso

Foi a Solidão quem me deixou na rua por mais tempo esta noite.
Aquela lembrança - vestida de azul no último encontro - cabe em muitas mulheres.
Pouco me importa que o conjunto não seja o mesmo, se eu nunca te tive na inteireza da vida - horas, semanas e meses de partida anunciada - sou bem capaz de me contentar com uma parte pelo todo.
Em qualquer traço ou gesto alheio incomum eu saboreio o mesmo gosto da tua beleza exótica.
O vislumbre da tua fé sustenta a minha paz de espírito.
"Dai-me tuas certezas" - eu oraria de noite se tivesse o hábito de rezar.

3.28.2007

Pequeno Retrato

Ela crê em presságios
e à sua família pertence
um pequeno anjo que
verte lágrimas de sangue.

Ela disse:
"Voltaremos a nos ver"
e assim aconteceu.

Chorou diante de mim,
muito mais vermelho
que sangue.

Depois partiu.

Viu fantasmas e outras cidades.

E num cemitério boliviano
encontrou seu sobrenome.

3.22.2007

Três Amigos

um dos amigos

ficava tão nervoso

que fazia redemoinhos

no cabelo

o outro

feito urso

não quis saber

de nada além

de sua fome

o último

perdeu-se

em palavras

que ainda

não foram escritas

3.14.2007

Round here

Step out the front door like a ghost into the fog
Where no one notices the contrast of white on white
And in between the moon and you the angels get a better view
Of the crumbling difference between wrong and right
I walk in the air between the rain through myself and back again
Where? I dont know
Maria says shes dying through the door I hear her crying
Why? I dont know

Round here we always stand up straight
Round here something radiates

Maria came from nashville with a suitcase in her hand
She said shed like to meet a boy who looks like Elvis
She walks along the edge of where the ocean meets the land
Just like shes walking on a wire in the circus
She parks her car outside of my house
Takes her clothes off
Says shes close to understanding jesus
She knows shes more than just a little misunderstood
She has trouble acting normal when shes nervous

Round here were carving out our names
Round here we all look the same
Round here we talk just like lions
But we sacrifice like lambs
Round here shes slipping through my hands

Sleeping children better run like the wind
Out of the lightning dream
Mamas little baby better get herself in
Out of the lightning

She says its only in my head
She says shhh I know its only in my head
But the girl on car in the parking lot saysman you should try to take a shot
Cant you see my walls are crumbling?
Then she looks up at the building and says shes thinking of jumping
She says shes tired of life she must be tired of something

Round here shes always on my mind
Round here hey man got lots of time
Round here were never sent to bed early
And nobody makes us wait
Round here we stay up very, very, very, very late
I cant see nothing, nothing round here
Catch me if Im falling

3.13.2007

Catavento e Girassol

Meu catavento tem dentro o que há do lado de fora do teu girassol
Entre o escancaro e o contido, eu te pedi sustenido e você riu bemol
Você só pensa no espaço, eu exigi duração
Eu sou um gato de subúrbio, você é litorânea

Quando eu respeito os sinais vejo você de patins vindo na contramão
Mas quando ataco de macho, você se faz de capacho e não quer confusão
Nenhum dos dois se entrega, nós não ouvimos conselho
Eu sou você que se vai no sumidouro do espelho

Eu sou do Engenho de Dentro e você vive no vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio e você é expansiva, o inseto e a flor
Um torce pra Mia Farrow, o outro é Woody Allen
Quando assovio uma seresta você dança havaiana

Eu vou de tênis e jeans, encontro você demais, scarpin, soiré
Quando o pau quebra na esquina, cê ataca de fina e me ofende em inglês
É fuck you, bate bronha e ninguém mete o bedelho
Você sou eu que me vou no sumidouro do espelho

A paz é feita num motel de alma lavada e passada
Pra descobrir logo depois que não serviu pra nada
Nos dias de carnaval aumentam os desenganos
Você vai pra Parati e eu pro Cacique de Ramos

Meu catavento tem dentro o vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora o escondido do Engenho de Dentro da flor
Eu sinto muita saudade, você é contemporânea
Eu penso em tudo quanto faço, você é tão espontânea

Sei que um depende do outro só pra ser diferente, pra se completar
Sei que um se afasta do outro, no sufoco, somente pra se aproximar
Cê tem um jeito verde de ser e eu sou meio vermelho
Mas os dois juntos se vão no sumidouro do espelho

3.07.2007

Mais Manoel.....

"Sempre compreendo o que faço depois que já fiz. O que sempre faço nem seja uma aplicação deestudos. É sempre uma descoberta. Não é nada procurado. É achado mesmo. Como se andasse num brejo e desse no sapo. Acho que é defeito de nascença isso. Igual como a gente nascesse de quatro olhares ou de quatro orelhas. Um dia tentei desenhar as formas da Manhã sem lápis. Já pensou? Por primeiro havia que humanizar a Manhã. Torná-la biológica. Fazê-la mulher. Antesmente eu tentara coisificar as pessoas e humanizar as coisas. Porém humanizar o tempo! Uma parte do tempo? Era dose. Entretanto eu tentei. Pintei sem lápis a Manhã de pernas abertas para o Sol. A manhã era mulher e estava de pernas abertas para o sol. Na ocasião eu aprendera em Vieira (Padre Antônio, 1604, Lisboa) eu aprendera que as imagens pintadas com palavras eram para se ver de ouvir. Então seria o caso de se ouvir a frase pra se enxergar a Manhã de pernas abertas? Estava humanizada essa beleza de tempo. E com os seus passarinhos, e as águas e o Sol a fecundar o trecho. Arrisquei fazer isso com a Manhã, na cega. Depois que meu avô me ensinou que eu pintara a imagem erótica da Manhã. Isso fora."
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SABEDORIA

"Conhece a diferença entre o sábio branco e o sábio negro?

A sabedoria do branco mede-se pela pressa com que responde.
Entre nós o mais sábio é aquele que mais demora a responder.
Alguns são tão sábios que nunca respondem."

(Mia Conto - "O último voo do flamingo")

3.06.2007

Boas Vindas

Lembramos desta música lá em casa ontem.
Eu adoro muito então vou deixar aqui para todos e especial para a Ana. Seja Bem Vinda! :)

"Vai sempre ter alguém
Com mais dinheiro, mais respeito
Mais ou menos tudo o que se pode ter
Vai sempre sobrar, faltar
Alguma coisa, somos imperfeitos
E o que falta cega p'ro que já se tem
Eu não te completo
Você não me basta
Mas é lindo o gesto de se oferecer
O que eu quero nem sempre eu preciso
Mas dê um sorriso quando me entender
Seja você
Seja só você"

Seja você - Paralamas do Sucesso

Memórias Inventadas

"Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo de peraltagem. Quando era criança eu deveria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia vizinho. Em vez de peraltagem eu fazia solidão. Brincava de fingir que pedra era lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um serzinho mal resolvido e igual a um filhote de gafanhoto.
Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação".

Manoel de Barros

3.05.2007

O Óbvio


Alguém topa?

3.03.2007

Demorou.......mas......

Cá estou alumbramentos!
Felizes??? Espero que sim!
Se não, bom....

primeira postagem, apenas um breve recadinho....

2.27.2007

haiku de Mario Benedetti

los sentimientos
son tan inocentes
como las armas blancas

2.22.2007

Era o reinado da beleza.
A tua franja pesada escorregando na pele escura e se detendo ora nos cílios, ora nos dentes. Os seus olhos através dos fios, permanecendo em mim.
Eu não te recompunha porque era no desarranjo aquela intimidade.
Como a natureza te fez bonita, toda linhas de traçado espesso - em movimento. As imprevisíveis combinações de "instantes-borboleta".
Nem me passou pela cabeça prender-te as asas entre os dedos. Eu sei que não há nada que se possa verdadeiramente reter.
E não há nenhuma segurança em amar.

fevereiro 2007

1.25.2007

"O essencial é invisível aos olhos"